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FUNDADOR


Vital Brazil

    Nascimento e Formação

    Vital Brazil nasceu na cidade de Campanha, Minas Gerais, em 28 de abril de 1865. Diplomou-se médico, em 1891, pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro e logo retornou a São Paulo, que acreditava ser um Estado preocupado com a organização da higiene e saúde de sua população.

    Desde 1893, como inspetor sanitário, percorreu o Interior do Estado, tomando conhecimento das precárias condições de saúde em que vivia a população. Afastou-se do serviço público, estabelecendo-se como clínico em Botucatu, quando, em contato com acidentes, iniciou as primeiras experiências com serpentes peçonhentas. Em 1896, a convite de Adolfo lutz, iniciou suas pesquisas no Instituto Bacteriológico.

Em 1898 participou da Identificação do surto epidêmico de peste bubônica em Santos, e passou a preparar o soro contra esta doença na fazenda Butantan (local onde se originou o instituto). Médico clínico no interior de São Paulo, percebeu a necessidade de combater os sintomas de envenenamento por animais peçonhentos. Nesta época, ocorriam quase 3.000 acidentes por ano só no Estado de São Paulo.

A Fazenda dispunha de um laboratório improvisado, uma cocheira adaptada para enfermaria, um alpendre para sangria de cavalos imunizados e um pavilhão o para acondicionamento e distribuição de soros. Nesse ambiente prosseguiram os seus estudos e primeiros trabalhos técnicos até 23 de fevereiro de 1901, quando o Presidente Rodrigues Alves deu organização oficial ao Instituto Butantan, que recebeu inicialmente o nome de Instituto Serumtherápico. Neste mesmo ano foram entregues as primeiras partidas de soros antipestosos e antipeçonhentos

Todo este pioneiro e importante trabalho científico foi reconhecido 'pela primeira vez na comunidade científica durante o 5º Congresso de Medicina e Cirurgia, no Rio de Janeiro. Vital Brazil demonstrou neste congresso que a única arma contra o envenenamento ofídico era o anti - veneno específico (o soro obtido a partir do veneno do animal que causa o acidente só neutraliza a ação desse veneno). Muitos trabalhos científicos passaram a ser desenvolvidos por Vital Brazil e técnicos do Instituto Butantan. Estes estudos com animais peçonhentos levaram à publicação do livro "Defesa contra o Ofidismo", em 191 1, reeditado mais tarde em francês.

O
Instituto Butantan ganhava prestígio e importância nestes anos, e sua ampliação era emergente. Inaugurou-se então, em 1914, o chamado Prédio Central do Instituto, o primeiro a ser construído para instalar propriamente vários laboratórios (hoje, o Prédio abriga a Biblioteca e a Divisão Cultural do Instituto e os laboratórios de Bioquímica e Farmacologia). Esta ampliação também atingiu a população, que precisava conhecer medidas de prevenção de acidentes peçonhentos, foi através de permuta com fornecedores de animais, com posterior troca de correspondência, que estas medidas começaram a ser divulgadas.

Nos anos seguintes, o Butantan passou a estender as suas pesquisas sobre os problemas ligados à higiene e preparo de produtos para a defesa da saúde da população paulista e brasileira. Estudou- se a difteria, tétano, gangrena, tifo, varíola (hoje erradicada), parasitoses, febre maculosa e lepra. Lemos Monteiro, destacado pesquisador desta fase do Instituto, e seu assistente, Edson Dias, foram infectados no laboratório quando preparavam a vacina contra a febre maculosa (tifo exantemático), vindo a falecer poucos dias depois. Vital Brazil retirou-se da direção do instituto em 1919, retornando em 1924. Neste ano intensificou os trabalhos, no campo da Microbiologia, Imunologia, criou novos laboratórios e estabeleceu um intenso programa de informação ao público, organizado cursos de higiene para professores e exposição de painéis informativos, Desenvolveu novos estudos, e produziu, em alta escala, vacinas para a produção da febre tifóide, que atingiu São Paulo nesta época.

Com uma previsão de produção de 70 milhões de vacinas e 620 mil doses de soro hiperimune para o ano 2000, o Butantan hoje desenvolve projetos para novos laboratórios de produção de soros e vacinas, modernização dos biotérios, pesquisas biomédicas em novas áreas e ampliação das atividades de ensino e divulgação. Crescendo sempre em função das necessidades da população, o Butantan fornece atualmente cerca de 80% de todas as vacinas utilizadas no Brasil. Desde 1901 o Butantan produziu mais de 540 milhões de doses de vacinas e 35 tipos diferentes de soros.

O Hospital Vital Brazil, para atender vítimas de envenenamento por animais peconhentos, começou a funcionar em 1945. Em 1948, como parte de uma homenagem a Vital Brazil, um novo prédio para laboratórios de pesquisa foi inaugurado no Instituto, dando inicio a mais uma fase de ampliação. Foram também construídos o heliporto, biotérios (onde são criados e mantidos animais para experimentos cientificos) e outros laboratórios.

Depois de um mês assistindo a conferências sobre medicina nos Estados Unidos, em 1916, Vital Brazil estava de malas prontas para voltar a São Paulo. O médico brasileiro mostrou os trabalhos desenvolvidos pelo Instituto Butantan, mas o soro contra veneno de cobra despertou mais curiosidade que interesse científico. Os americanos argumentaram que lá havia poucas espécies de serpente e os trabalhadores rurais não corriam riscos, pois andavam calçados. Mas o acaso encarregou-se de projetar Vital para o mundo. Ele aguardava a partida do navio quando dois médicos entraram correndo no hotel em Nova York: "Um funcionário do zoológico no Bronx foi picado por uma cobra e encontra-se à beira da morte." Vital pegou algumas ampolas que trouxera do Brasil e aplicou no paciente. Doze horas depois, ele já estava fora de perigo. O fato repercutiu em todo o país e virou manchete no The New York Times. "Veio daí a idéia dos estrangeiros de que existem serpentes por todos os cantos no Brasil", afirmou a ISTOÉ Lael Vital Brazil, 68 anos, filho do médico.

Tão obcecado pela morte, Oswaldo Gonçalves Cruz alardeava aos amigos: “Minha intuição me diz que vou morrer cedo.” Escreveu o testamento antes de chegar aos 40 anos. Mas, naquele dia, o diretor de Saúde Pública, cargo que na época equivalia ao de ministro da Saúde, tinha motivos de sobra para acreditar que chegara sua hora, de fato. Um motim popular queria, a todo custo, a cabeça do médico sanitarista. Meses antes, ele havia levado a cabo violenta campanha contra a febre amarela. O objetivo era derrubar o título de “túmulo dos estrangeiros” que o Rio carregava - surtos endêmicos matavam milhares por ano e os navios estrangeiros já nem aportavam por aqui. As temidas “brigadas mata-mosquitos” de Oswaldo Cruz, então, invadiram casas e cortiços à cata do vilão Aedes aegypti, transmissor da moléstia. Ainda por cima, o Congresso acabara de aprovar a Lei de Vacina Obrigatória para o combate à varíola, anunciando que outras medidas autoritárias viriam. Incontrolável - em parte por falta de informação, mas também devido à violência dos agentes sanitários -, a população saiu às ruas e protagonizou a Revolta da Vacina. E durante seis dias e cinco noites, tempo que o governo levou para controlar o motim, Oswaldo temeu a morte, mas não deixou de comparecer ao trabalho um só dia. O reconhecimento tardou, mas veio. Quatro anos depois da revolta, estavam erradicadas no Rio a febre amarela, a peste bubônica e a varíola.

 

Monge espertalhão

Até hoje não existe tratamento mais eficaz para a picada de cobra. O soro, feito a partir do próprio veneno da serpente, é produzido por meio de um processo tão complexo quanto a história de quem o criou. Nascido a 28 de abril de 1865 (dia de São Vital), em Campanha, Minas Gerais, percorreu diversas cidades do Estado com a família até fincar pé em Caldas. Lá conheceram um pastor e tornaram-se presbiterianos. Até que um monge católico espertalhão chegou ao lugarejo e passou a cobrar dinheiro dos fiéis. Sem se contentar, ordenou ao dono da fazenda onde a família estava hospedada que expulsasse os evangélicos. Tempos depois, quando o monge fingia ler o latim à frente de outro padre, descobriram que se tratava de um vigarista. Já era tarde. Vital havia migrado para São Paulo.

O desejo de virar médico, contudo, começaria a se materializar quando ingressou na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, aos 21 anos. Quase sem dinheiro, não faltaram motivos para abandonar o curso. Os poucos réis ele ganhava nos plantões da delegacia de polícia, onde trabalhava como escrivão. Em troca de um prato de comida, dava aulas às filhas de um amigo. Ainda encontrava disposição para se debruçar sobre os livros. O cansaço e a fraca iluminação das lamparinas de azeite eram instrumentos de tortura para o jovem estudante, que vencia o sono imergindo os pés numa bacia de água fria.

Já formado, Vital Brazil combateu epidemias de febre amarela, varíola e cólera no interior paulista. Depois de alguns anos, desenvolveu um soro contra os venenos de cascavel e jararaca - as duas espécies que mais matavam no Brasil. Aceitou o desafio de produzir o soro e, em 1899, assumiu a direção do Instituto Butantan, em São Paulo, na época um estábulo de fazenda onde o desconforto competia com o ambiente insólito das instalações - as vacas eram ordenhadas bem ao lado dos médicos. Dirigiu o Butantan por 20 anos, transformando-o em referência mundial no combate às mortes por envenenamento. Ainda fundaria, em Niterói, onde morou o resto da vida, o Instituto Vital Brazil, voltado à preparação de soros e vacinas e pólo de pesquisas nessa área.

Ouvinte da BBC

O espírito humanitário do médico surgia quando, antes de tomar o segundo bonde para chegar à distante (na época) fazenda do Butantan, visitava os enfermos das imediações. Em sinal de gratidão, um comerciante italiano escreveu em letras garrafais na porta de seu comércio: "Avenida Vital Brazil." O nome pegou e a avenida é hoje uma das mais importantes da zona oeste de São Paulo. -Morto a 8 de maio de 1950, aos 85 anos, Vital Brazil continua bem vivo na memória dos familiares. O médico adorava crianças e teve 21 filhos, em dois casamentos. O penúltimo da tropa, Lael, recorda a dedicação do pai. "Vivia entre a casa e o trabalho." Os momentos de folga ele passava em frente ao rádio, acompanhando o noticiário da BBC de Londres. Só perdia a calma ao ver alguma arma por perto, embora tenha trabalhado na polícia. Os filhos queriam brincar com revólveres de chumbo e estilingues, mas eram proibidos. "Se nos flagrasse atirando pedra em passarinho, ficava uma fera", lembra Lael.

Você sabia?

Juntava todos os filhos, netos, bisnetos e funcionários do Instituto Vital Brazil para celebrar a noite de Natal. Suado, reclamando da vestimenta pesada em pleno verão, o chofer era obrigado a vestir-se de Papai Noel. A comemoração acontece até hoje, agora no dia do nascimento do patriarca. A última festa reuniu 140 pessoas.

Reconhecimento Pela Comunidade Científica

Médico clínico no Interior de São Paulo, Vital Brazil percebeu a necessidade de combater os sintomas de envenenamento por animais peçonhentos.

Este importante trabalho foi reconhecido pela primeira vez na comunidade científica durante o 5º Congresso de Medicina e Cirurgia, no Rio de Janeiro onde Vital Brasil demonstrou que a única arma contra o envenenamento ofídico era o anti-veneno específico (soro obtido a partir do veneno do animal que causou o acidente).


Falecimento

Vital Brazil morreu em 08 de maio de 1950. Responsável pelo trabalho pioneiro em Medicina Experimental no Estado de São Paulo, ajudou a construir o enorme patrimônio que o Instituto Butantan hoje representa para a ciência.