Não seria assim em Portugal. João Pedro Vale atravessa a rua Agostinho Cantu, no Butantã, achando tolerante demais a relação dos taxistas e comerciantes com os travestis que fazem ponto ali. O artista pensa nas peles que eles vestem na mostra que é aberta hoje na Leme.
“O Sonho de Toda Onça É Ter um Casaco de Pele de Puta” é frase do colunista José Simão, da Folha, e nome da exposição do português na galeria. Ele imita padrões e formatos do couro de vacas e onças com guardanapos coloridos.
“Eu vejo essa inversão de papéis”, diz Vale, artista que está na coleção da Tate e expõe trabalhos pela terceira vez no Brasil. “É a idéia de um casaco de pele como símbolo de status, mas fake, como as putas que vestem casacos de pele falsa.”
Parecem grandes tapetes malhados. Vale descreve a mostra como mistura de sala de troféus de caça com butique de casacos. Estão disponíveis em vermelho, rosa, lilás e verde e amarelo -referência patriótica que leva ao segundo ambiente da individual, do outro lado da rua, no anexo da galeria.
Lá, estão reproduções feitas com massinha de modelar dos quadros “O Homem de Sete Cores”, de Anita Malfatti, “Antropofagia”, de Tarsila do Amaral, e “Cinco Moças de Guaratinguetá”, de Di Cavalcanti, que Vale, talvez pensando na butique, confunde com “cinco moças do Iguatemi”.
Segundo o português, os artistas brasileiros pensaram, nesses quadros, a cor da pele como denominador de identidade cultural, nacional e antropológica. A releitura exuberante em massinha colorida não perde a chance de fazer piada -já que o humor é componente central do trabalho de Vale- com clássicos da arte brasileira.
A Leme também abre hoje a primeira individual no Brasil do britânico Henry Krokatsis.
João Pedro Vale e Henry Krokatsis
Quando: abertura hoje, às 19h; de seg. a sex., das 10h às 19h; sáb., das 10h às 17h; até 28/6
Onde: galeria Leme (r. Agostinho Cantu, 88, tel. 0/xx/11/3814-8184)
Quanto: entrada franca
Fonte: Folha Online