Assassinos estavam na USP uma hora antes do crime

Dois suspeitos de assassinar o estudante Felipe Ramos de Paiva, de 25 anos, no estacionamento da Universidade de São Paulo (USP) circularam livremente no saguão e imediações da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA), no campus do Guia Butantã, uma hora antes de matar o rapaz, do 4º ano de Ciências Atuariais. A polícia divulgou nesta quinta-feira o retrato falado de um deles.

O crime ocorreu às 21h30 de quarta-feira. Em imagens gravadas pelas câmeras da faculdade, a dupla aparece entre os alunos. Um dos jovens chega até a encostar nas costas de uma garota. Os suspeitos também foram reconhecidos por uma testemunha como os mesmos que a cercaram para assaltá-la em um ponto de ônibus dentro da instituição minutos antes do crime. A pessoa desconfiou e correu antes de ser abordada.

Para o delegado Jorge Carlos Carrasco, diretor do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), não há dúvidas de que Paiva sofreu um latrocínio (roubo seguido de morte). São dois motivos que reforçam sua tese. O primeiro é que uma outra testemunha, que seria colega de classe da vítima, viu Paiva sacando dinheiro em um caixa eletrônico do câmpus antes de ir até seu carro, um Passat ano 1998 blindado.

Segundo Carrasco, a suposta quantia não foi encontrada junto do corpo do universitário. Outro motivo que o leva a crer em latrocínio é a cena do crime. “É obvio que houve resistência. Ele correu para entrar no seu carro blindado, tanto que o pé está dentro do veículo e o corpo fora”, explica. A maçaneta do automóvel também estava danificada. “Houve reação.”



Carrasco disse que há indícios de que antes das 21h30 a dupla tentou dar o “bote” em outras pessoas no saguão quando podem ter “vislumbrado” o universitário. “São dois indivíduos que não são do ambiente estudantil. Estavam a caça para cometer delitos contra o patrimônio.” O modo como tudo aconteceu, porém, não foi gravado pelas câmeras da USP. É que, de acordo com Carrasco, os equipamentos na lateral do câmpus, que poderiam mostrar o estacionamento, são novos e não estão em funcionamento.

Paiva foi morto com um tiro na cabeça disparado de uma pistola calibre 380. Os pais do estudante acreditam que ele possa ter reagido ao ataque, a exemplo do que já teria feito em outros assaltos.

O coronel da reserva José Vicente da Silva, ex-secretário Nacional de Segurança Pública, alerta que a USP tem uma estrutura frágil de policiamento, o que torna baixo o risco para os criminosos agirem. “A PM não é proibida de entrar, mas ela vai o mínimo porque existe restrição por parte dos alunos. E o criminoso sabe disso.”

Como solução, ele aposta em um investimento em policiamento militar nas três entradas da USP junto com a guarda universitária, câmeras nas entradas dos bolsões e blitze mais intensas. Além disso, ele destaca que é preciso comunicação da guarda com a corporação. Para Vicente, a iluminação também é fator negativo. Isso porque as luzes ficam acima das copas das árvores. “A USP é muito arborizada com luzes acima das árvores.” O coronel citou uma pesquisa realizada há dez anos que apontava uma rua da USP como a segunda via em que mais se furtava carros na região de Pinheiros, zona oeste.

Às 8h de ontem, alunos se reuniram em frente à faculdade para protestar. Eles caminharam até a reitoria e entregaram carta exigindo segurança no câmpus. À noite, houve novo protesto, em que os alunos acenderam velas em homenagem ao colega assassinado.

Fonte: Jornal da Tarde



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